Anna e Lilia

Coincidiu que Anna apareceu justamente naquela hora. E àquela hora, não era o momento adequado para aparecer. E aquele "erro" jamais seria reparado se não fosse sua estranha mania de se desculpar por tudo. Anna sabia que havia apenas remediado um futuro nada promissor. Enfim, padeceu de seus próprios exageros quando decidiu voltar atrás e beijá-la. E, estranhamente, daquela estranhesa, nasceu um grande amor. Mas estranho mesmo era apenas para os outros. Hoje, Anna e Lilia vivem felizes, apesar das desventuras.

Putz...

O telefone toca:

- Renato! Alguma coisa entre nós nos separou!

- O quê?

- Foi isso o que eu disse. Precisamos conversar sobre o que aconteceu e descobrir que coisa foi essa.

- Mas...

- Não diga nada. Eu quero te dizer que a culpa foi minha e estou disposta a reparar esse erro.

- Eu acho que você se enganou...

- Não diga isso. Você sempre vem com essa né?!?

- Olha...

- Para. Se você insistir, eu vou ficar nervosa. Foi isso que acabou com a nossa relação, agora eu sei, essa coisa. Sua mania de me interromper sempre e não me deixar falar o...

- Olha. Eu tô dizendo: você está enganada!

- Você vai começar com isso de novo? Você não se conserta mesmo, foi por isso que terminamos, lembra?

Eu achei que você podia mudar isso, mas não pode. Desse jeito não tem volta, Renato.

- ...

- E não adianta vir com flores pra tentar me comprar.

- ...

- Alô! Renato, cadê você? Desligou é? Não vai falar comigo?  Não vai dizer nada?

- Mas é isso que eu estou tentando dizer e você não me deixa. Eu não sou o Renato, você ligou pro número errato.

- Putz...

Encruzilhada

Ao ver sua sombra projetada na calçada, percebeu ter-lhe acontecido entre tantos e tantos pensamentos aleatórios, o de seguir em frente, sem rumo, sem destino. E se a vida lhe desse um caminho melhor do que tinha hoje, aceitaria de bom grado, e se nesse caminho houvesse uma encruzilhada, decidiria qual a melhor direção a tomar.

Mas, como a vida não segue regras, encontrou uma linha reta até o fim de sua existência.

Paparazzi

- Paparazzi!

Gritaram no meio da multidão, enquanto um flash de luz intensa capturava a cena do beijo flamejante entre o galã da novela mais vista da televisão brasileira e uma prostituta viciada em crack.

Em sua defesa, alegou amor a primeira vista, mas o juiz deu a sentença com oito batidas raivosas do martelo de jacarandá e verniz sueco na mesa de embuia com detalhes gótico-tardio do tribunal de pequenas causas.

Dois anos se passaram, o ator caiu em desgraça após um certo canal de TV explorar a notícia por mais de 1 mês em horário nobre. Hoje mora na rua, coberto apenas por uma caixa de papelão de geladeira e um bloco de construção pra esquentar o pouco de comida que consegue remexendo o lixo.

A prostituta, convidada para os melhores e mais populares programas de fofoca da TV, hoje é atriz em uma famosa novela. Com a grana da indenização, aplicou e mora numa ilha próximo à Santa Catarina.

Paparazzi!

Gritaram no meio da multidão, enquanto um flash de luz intensa capturava a cena do beijo flamejante da ex-prostituta, agora atriz famosa da TV e um mendigo com tatuagem no pescoço e passado famoso! Alguém também gritou que conhecia o mendigo de algum lugar, mas ninguém deu ouvidos. Uma semana depois do ocorrido, o fotógrafo foi demitido da famosa revista de fofocas, o mendigo foi encontrado morto por overdose, e a atriz faz na próxima semana seu terceiro ensaio nú para uma famosa revista masculina!

Que sorte!

Petrônio nunca perdeu na vida, a sorte lhe caía bem. Quando era tudo ou nada, ganhava tudo: todos os concursos, melhores trabalhos, funcionário do mês, prêmios da loteria. Era sempre o escolhido. E foi assim, dessa maneira incrivelmente especial, que a morte o escolheu antes e em primeiro lugar.

As histórias que a gente conta é que conta a história da gente!

Não tenho idéia de onde saiu aquela mulher, e menos ainda sobre o que ela dizia saber de mim. Algo definitivamente espetáculo-espetáculo! Me mostrou a direção e me beijou de língua (suada, áspera, doce). Movia-se entre os adjetivos e substantivos como se dominasse por completo a língua portuguesa. Me ganhou! ... Já era tarde pra desistir, pra perguntar como ela sabia tanto de mim. Deixei meus pensamentos sobre os canais de literatura invadir minha cabeça naquela noite, precisava esquecê-la.

Nela, me fassinava a fluência do dialogo, a coerência da métrica. A "disfagia" me assombrava em cada engolir seco, e ela não parava. Quando usou perfeitamente um artigo indefinido, como um sussurro em meus ouvidos, percebi imediatamente que estava apaixonado. A noite, a chuva na janela não diminuia o calor do lado de fora quando ela chegou com aquela blusa cavadinha e sem sutiã. E sua língua, tocando o céu da boca, parecia mostrar o que ela deixou escapar antes que eu abrisse a porta. Não disse nada, naquele infinito momento, só queria seu beijo, e uma frase bem construída. Na TV, os programas de literatura, um após o outro, nos deixava completamente despertos. Nossos corpos falavam em várias línguas!

Não tenho idéia de onde ela saiu, e não percebi se era loira, morena, negra, baixa ou alta, gorda ou magra. Meus olhos, hipnotizados pelo modo impecável de colocar as palavras em meus ouvidos, só enxergavam boca, língua e dentes.

Mas, de repente, quando a chuva bateu mais forte na janela, o tempo esfriou. Foi culpa do vento gelado que entrou pela fresta da porta e que nos fez levantar do chão e correr para a cama. Caímos um sobre o outro, e percebendo aquele gosto incomum que tínhamos, nos entregamos aos textos de Oscar Wilde até o amanhecer.

Texto adaptado #03

O sonho, que não se tornou realidade, não impediu que Muricy Alvarenga desistisse, como fez seu pai trinta e dois anos antes dele. Ao contrário do que podia supor a maioria que o conhecia, ele seguiu em frente, e em frente continua até hoje.

Soldados israelenses, relataram a presença de um homem de estatura média e cabelos loiros, vagando pelo deserto. As inúmeras vezes em que foi impedido de voltar não surtiram efeito. O jornal local mostrou uma foto de um corpo não identificado, baleado na cabeça, próximo a uma rua deserta.

Este jornal tentou entrar em contato com a família de Muricy, mas tendo ele decidido não se casar e nem manter relações com nenhuma pessoa, termina aqui a sua linhagem.

Cientistas americanos acreditam que mesmo assim, a inseminação artificial pode dar um motivo de alegria para seus fãs. O semem congelado de uma lhama, combinado com o DNA de Muricy pode gerar uma nova espécie de mamífero.

Se tivesse uma família, ela estaria agora grata pelo trabalho desenvolvido pelos geneticistas.

Porém, sem mais informações que possam afirmar se, realmente, Muricy está morto, ou em casa assistindo um reality show qualquer, terminamos aqui a reportagem especial de hoje.

da redação:

Vanussi Tâmara

Miss bumbum, tatuagem ousada, ensaio sexy e diversão para adultos

O título acima trouxe você até aqui. Eles são um dos mais buscados em toda internet, e todos nós sabemos o porquê! Os portais por este Brasil digital estão lotados de chamadas desse tipo. E elas servem apenas para um propósito - que não é o de levar a informação que você estava procurando - mas para ganhar mais e mais acessos e com isso mais e mais dinheiro. Tudo bem, não sou padre nem moralista, não estou aqui discutindo o que você deve ou não procurar na internet, a vida é sua, faça dela o que você quiser, foda-se o mundo lá fora. O que eu quero dizer é que, chamar a atenção para um site com esse tipo de chamada para um link é um insulto a nossa inteligência!

Mas, peraí, quem está preocupado com a nossa inteligência? Se é que temos, ou que estamos preocupados, ou habilitados, a usá-la de forma correta?

O que interessa, é que essas chamadas atraem 99,9% dos internautas. Por isso você está aqui.

E você descobre que o título do post não mostra nenhuma mulher pelada, e você fica puto porque foi enganado. Mas o site ganha uma boa grana pelo seu click. Assim como eu, agora!

Moral da história 1 : A VERDADE É A MAIOR MENTIRA JÁ INVENTADA PELO HOMEM.

Moral da história 2: Aqui não tem porra de moral nenhuma.

microconto #006

"Para terminar o dia com chave de ouro enfiou uma faca na garganta. Aplausos nas arquibancadas!"

Sem sentido (masturbação intelectual)

O que menos faz sentido? Ver sentido onde não deveria haver, ou não ver sentido em nada?

Por que as coisas deveriam ter algum sentido? Eu respondo: - Para não enlouquecermos!!! E se não faz sentido falar sobre isso, menos sentido ainda, faz responder a esta indagação.

E o sentido cartesiano de tudo isso cai por terra quando ao tentar entender o serntido das coisas, nos deparamos com textos sem sentido como este!

Masturbando livros

Pegar um livro e lê-lo várias e várias vezes, pegá-lo só para sentí-lo, olhar para a capa e perceber a fonte, a cor, a textura, o brilho. Cheirar o livro, folhear sentindo a quina das páginas na ponta dos dedos, colocá-lo em destaque na estante, recomendar aos amigos, consultá-lo sempre. Se ainda não existe um termo para descrever a paixão e o gosto pelos livros, eu acabo de sugerir. E quando alguém te perguntar o quanto você gosta de livros, poderá dizer que é um "masturbador de livros".

Texto adaptado #02

Versão imortalizada por Simony Porche com sua voz aveludada, a canção "Don't go away alone to take me empty and bring me back the last summer of 1999", originalmente gravada em 1948, foi remodelada e regravada por Ficher Strud, com novo título: "Go away to hell and take me alone for god". Para os fãs do cantor norueguês, a canção já está disponível para download no site www.stayawayfrommeandgotohell.fr.

Tanto a gravadora quando a produtora do clip estão esperando que o sucesso seja tão intenso quanto a primeira vez em que foi cantada.

Vale dizer aqui que esta é a faixa título do novo cd de Fischer, que tem também:

Never, never, never leave me wait for the bus

Chiken frost

Tomorrow at clock night color

The most important thing is

Fingers elephant

Mother take me home again

The sun, the moon, the ocean, the cloud, the river, the street and me

Fuck me or go away

Goodbye everybody, i got to go!

Eu já fui melhor, já fui melhor do que isso, já fui melhor ontem do que hoje, já fui melhor do que pareço estar, já fui melhor do que poderia achar que seria, mas achar-se melhor é pretenção demais para mim, ou para qualquer um. Enfim, é assim. Já fui melhor, não que o melhor seja algo digno de se dizer: ohhhhhh...como ele é bom!

Não, de forma alguma. Ninguém deve se rotular, porque o rótulo sempre vem de terceiros, porque é assim que se dá legitimidade às coisas.

Não sou escritor, nunca fui, nunca serei. Mas já fui melhor, já tive dias melhores, assutnos melhores, idéias melhores, mais dinheiro no bolso e menos rugas na testa, mas enfim, ser melhor não significa nada.

Hoje estou cataleptico e vazio, juntando umas coisas aqui e outras ali para encher novamente a mente de idéias. Mas, parece que isso é como emagrecer: muito, muito difícil. E não vale para mim, porque já sou magro! Então, repito o que diz o título do post acima - frase imortalizada por Mercury em Bohemia Rapsódia!!!

Vida longa e próspera.

Que a força esteja com você.

I'll be back.

E tudo mais.