31 de jul. de 2012

Subliminarmente falando

Em uma cafeteria qualquer:

- você sabia que existe uma mensagem subliminar na fumaça do café?
- de onde você tirou isso - perguntei, levantando os olhos do jornal.
- li na faculdade.
- mas isso foi há uns 30 anos.
- mas continuam fazendo café com fumaça. por que será?, querem continuar dizendo alguma coisa com isso.
- você fez faculdade de quê? - perguntei, mas sem levantar os olhos das notícias, mais interessantes do que aquele papo.
 - publicidade.
- tá explicado. - levantei e deixei o café e o jornal esfriando  na mesa.
- onde você vai?
- ler sozinho a fumaça do café, tchau!

Do simples ao composto: versão beta!

Toda verdade é ilusória!
O gato disse:
- Miau!
OH! Onomatopéica versão de gato.

Pseudo-poema III

Que eu me valesse
De todas as palavras escritas
E daquelas descobertas ao acaso
Pra dizer das coisas indizíveis
Feita de letras que se juntam
Pra formar um sentimento raro.
Que a literatura
Nas costas de um livro antigo
Tivesse o verso mais digno do mundo
Onde o amor fosse uma frase sem sentido
Rasgado sem ódio e sem mágoa
Marcado com a lágrima derramada
Por um motivo fútil.
E que a voz
Que o vento não calou
Pudesse ler esses versos rasos
Insatisfeitos, tortos
Despudoradamente expostos
Em seu louvor

Pseudo-minipoema I

Ao pensar me modifico
No pesar de cada momento
Apesar de todos os motivos
A pesar em mim meus sofrimentos

Pseudo-poema II

Entra agora
Nesse mundo de sonho
E me espera
Que já vou chegar.
Acende a luz das lanternas
E me espera
Que já vou chegar.
Plante as flores
Nos vasos que encontrar
E me diz
Se já posso entrar.
Sai agora
Desse mundo de sonho
Que estou bem aqui
A te esperar

Pseudo-poema I

Minha fala vem de um desejo
De um devaneio
De uma promessa
De um canto
Em meu coração.

Minha fala
São palavras incertas
Cheia de vontades
De sonhos
De espanto.

Quem sou quando sou palavra?
Quando sou desejo?

O que sou eu quando prometo?
Quando sonho?

Minha fala vem de um desejo
Encarnado num beijo
Tatuado na carne
Cravado feito estaca
Rasgando o coração

Só entrei na sala para não deixá-la vazia.
Era apenas eu, o vazio, o cheiro, o pó, a cor, a textura, a luz, o verniz no assoalho, a tinta nas paredes, as rugas nos quadros pendurados, o tempo brincando com o relógio, e a nítida sensação de que eu não estava só!

Livros Inventados V

"OK! Agora é a sua vez."

Autor: Alairde de Souza
Editora: CasadeLer

Diálogo e fúria para reuniões de trabalho é o subtítulo deste livro. Nada mais apropriado. Aqui o autor mostra o caminho das pedras para que você se destaque em uma reunião de trabalho, seja com uma retórica intocável, ou com a mais pura e verdadeira fúria nos olhos. Se você tem um cargo de direção ou supervisão na sua empresa, não deixe de compar este livro.

Bokkwitter III: A sala

 - O que você fez com meu coração?
- Só entrei pra não deixar a sala vazia!

30 de jul. de 2012

Multidão

Ela vinha desenhando a rua debaixo de seus pés, andava só no meio da multidão, como se ela mesma fosse a multidão. Seus olhos fixos, brilhantes, num momento de espanto e novidade. A rua, um desdobramento de sua íntima pressa e medo a tornava um ser solitário. A solidão a acolhia feito uma mãe. A multidão a evitava por puro desconhecimento de sua pessoa no mundo. Porque a multidão em si mesma também é um tipo de solidão.
         Desde sempre fora solitária; e a multidão que ia e vinha de todas as direções, vinha pela rua como se não conhecesse a si mesma.
Seus olhos, fixos nos olhos daquela gente, descobria uma intimidade inviolável e instransponível em cada olhar. Ocupara-se em adivinhá-las e assim amenizar a dor que a solidão lhe causava. Mas ela também tinha segredos que nem ela mesma poderia desvendar. E no meio da rua ela tropeça e sua bolsa cai, e tudo que há em seu interior é revelado, seus mais íntimos segredos são expostos em meio aos sapatos alheios, no cimento duro e cinza, às vistas de cada um daqueles, e que de repente, e por causa de sua vergonha se individualizam.
A multidão não era mais a solidão em que ela se encontrava, se sentiu observada na sua mais íntima verdade, na sua mais suja condição. Fora desvelada e isso a feriu profundamente.
         Em silêncio súbito, parara seu coração para que ninguém a ouvisse. Fora ela ou fora o tempo que parou para observá-la na sua mudez e na sua falta de movimento?
         De repente, sentada, os olhos baixos procuravam no chão o que ainda lhe restava de dignidade.
A multidão experimentou aquela mulher, a multidão parou em espanto e alguém veio em seu socorro, e a multidão que agora não era mais solidão estendeu sua mão maternal. Quanto tempo passara do momento da queda até agora? - ela se perguntava. A ajuda era uma ofensa maior que a própria queda, porque a solidão não presta socorro.
         Levantou-se na sua intimidade agora revelada, fingindo indiferença, mas tinha sido exposta, fora desvelada de sua privacidade guardada em sua bolsa.
Sua intimidade não lhe pertencia, pertencia à multidão. Sentiu-se traída, nua! Tentou levantar-se, mas não conseguiu e, por um momento, sua mão se estendeu pedindo ajuda, por um momento, quis ser devolvida à sua dignidade, mas para onde quer que olhasse só havia multidão, e a multidão em si também é um tipo de solidão.

Livros Inventados IV

"Lua e Luar"

Autor: Catherine Nizmeyer
Editora: CasadeLer

A autora, ela própria afetada pelo evento das fazes da lua, conta sua história em forma de romance.
Uma narrativa emocionante e verdadeiramente digna de uma leitura interessada.

27 de jul. de 2012

Acepipes, acepipes

Um anjo entrou no bar e sentou na mesa nº 3, o garçon foi atender com a cara mais displicente que poderia ter, o anjo pediu shopp e acepipes, o garçon sorriu e deu de costas, as asas do anjo arrastavam pelo chão deixando as pontas imundas, por causa disso ele tentava levantá-las e descansar numa das cadeiras, sem sucesso. Olhava para os lados à procura - talvez - de alguém, como se estivesse esperando mesmo.
Que eu saiba anjos não tomam shopp, ou estarei enganado. Anjos são assim meio bufões, meio coroinhas. É melhor que ele fique apenas nos acepipes, anjos bêbados são um saco.
Na mesa nº 8, um par de amigos conversavam sem dar a mínima atenção para o anjo ao lado.
Ele bebeu uns três shopps e comeu todo o acepipes. Eu, lá no canto, na mesa nº 14, observava tudo, e vi o exato momento em que ele pagou a conta e foi embora sozinho!

Afinal é sexta-feira

Neste canto da manhã, onde o sol, ainda em banho-maria aquece o concreto ao meu redor, vou mastigando a vida sem a espera de sempre, mas com a certeza de que no crepúsculo me liberto!

Livros Inventados III

"Garotos: a revolução"

Autor: Sir Monthgomery Friday
Editora: CasadeLer

Beatles!!! Será que alguém já escreveu este livro?
Com certeza, muitos gostariam de escrever. E este é um caso onde tanto o livro quanto a história poderiam muito facilmente não ser ficção.

26 de jul. de 2012

Não sou escritor

Não sou escritor.
Vou até lá fora e vejo que na parede da casa tem uma rachadura por onde entram o vento e as baratas. Na janela antiga de trinco enferrujado, tem "eu" debruçado no peitoril. Olhando pra onde? Talvez pra faixa no avião que vai plainando e dizendo: "Neste verão, use sabonete Dapele".
Não sou escritor.
E volto pra dentro, pra rasgar meus rascunhos e alimentar o fogão a lenha, tem sopa no jantar, mas ninguém pra me acompanhar. Na TV que não vejo há tempos, vejo um novo anúncio a riscar a minha retina: "Neste verão, use sabonete Dapele". Mas não sou escritor.
Nem faço gosto de tantas linhas infestadas de letras, sinais, parágrafos. Me concentro na ilusão que os espaços em branco causam nos olhos da gente: pseudo-cores estalantes.
Vou ao supermercado, preciso comer...não preciso ler, mas preciso muito comer, pois não sou escritor. Vejo um amigo antigo, viro o rosto pra ser despercebido por ele. Alguém tromba em mim, sacola no chão, a moça abaixa e se desculpa...me entrega uma amostra grátis: sabonete Dapele. Hoje, enfim, vou tomar banho!

Bookwitter II: Lá fora

Lá fora, o mundo se move debaixo dos pés de um mundo que se move sobre um mundo que se move entre esses dois mundos. Um mundo em cada passo, um mundo em cada cabeça.

25 de jul. de 2012

Livros Inventados II

"Céu"
Autor: Frei Saulo Humer Benedí
Editora: CasadeLer

Se os anjos habitassem o mundo físico, com certeza dariam suas opiniões a respeito da vida que levam por lá, e de tudo mais que acontecesse.
Assim, o autor faz uma entrevista com dezenas deles, e coloca sua experiência neste livro.
Há coisas entre o céu e a terra que a gente quer saber.

Bookwitter I : Ao cair da noite!

Ao cair da noite, o acordar abrupto. Ouço passos dentro dos olhos. Num gesto anestesiado, levantei-me apressado. Ao descobrir os sentidos, lembro-me de que é domingo!

"Bookwitter", um livro em 140 caracteres

Acabei de inventar esta expressão para classificar os leitores dessa nova conjectura. O que quero dizer com isso é que esta geração, viciada em twitter, não consegue ler mais que 140 caracteres sem perder o interesse pela leitura. Ou seja. Quer ser lido? Conte uma história com no máximo este número de caracteres se quiser realmente ser lido, entendido e seguido por eles. Aqui vou eu...a partir de agora me especializar em "bookwitters"

Livros Inventados

Livros, livros, livros...: pura ficção!
Se a ficção pode encher as páginas de um bom livro, por que não a capa?
Arte, título, resenha, editora, autor, tudo pode ser pura ficção.
É o que acontece aqui...
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"A vida secreta do Abatjour",
Autor: Anthony Bookold
Editora: CasadeLer

A inusitada relação do objeto com o ser humano é abordado de forma lúdica e divertida pelo autor. A vida a dois, o sexo e tudo mais, visto pelos olhos de um abatjour.
Neste primeiro livro de contos, Anthony aborda a vida cotidiana das pessoas em seus lares, nos escritórios, e até em motéis.
Imagine que histórias um abatjour contaria, se tivesse como fazê-lo?

A invenção do conto

A invenção do conto surgiu de um grande acaso da observação. E onde haviam cenas, introduziram-se as palavras para descrever o que o olho já sabia existir.
O texto já estava pronto antes mesmo das letras fazerem sentido aos sentidos humanos. E surgiu o inventor sem saber que inventava, deixando que a sua criação tomasse o caminho das histórias por si mesmo.
E assim, o conto se tornou algo que não precisa de provas, apenas de um leitor!