21 de dez. de 2012

CAPÍTULO I

"É Natal"

Nasci no natal, precisamente no dia vinte e quatro de dezembro de mil novecentos e setenta e quatro. E não estou dizendo aqui que foi minha mãe quem disse. Me lembro desse dia porque a enfermeira que me levou para fora da sala de cirurgia, vestia um gorro vermelho de papai noel. Lembro também de sentir suas mãos frias me tirando do colo de minha mãe, e depois, mais duas portas se abriram e fecharam antes que eu chegasse ao berçário.
Não é estranho para mim, lembrar de todos os fatos e momentos de minha existência, mas isto assombra muitas pessoas com quem falo. Particularmente, nascer no natal é um saco, ninguém lembra do seu aniversário. Contudo, isso já é passado para mim, hoje até agradeço esquecerem.
Tudo que pude ver quando saí da sala de cirurgia, foi um corredor branco, com paredes igualmente brancas. Senti um arrepio estranho nessa hora, e percebi o quanto era diferente o lado de fora da barriga de minha mãe. Era frio, e a sensação não era só essa, sentia também um tipo de dor que não era dor, mas que doía. E nas horas seguintes fui submetido a vários procedimentos que prefiro não falar. No fim, enrolado em cobertores macios, senti novamente o antigo calor maternal que me abrigava antes do nascimento. Ouvi choros e percebi que não estava sozinho. E devo registrar aqui que, do momento em que saí de dentro de minha mãe, até a saída do hospital, não chorei nenhuma vez!

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