15 de out. de 2012

No fim daquele dia

Havia uma ilusão permanente na cabeça de Ulisses de que o dia nunca terminaria.
Essa ilusão prendia-o naquele momento infinito, e permanecia o sol lá em cima, imóvel e à espera.
E tudo mais que havia, ou que pudesse existir naquele dia, dependia da vontade de Ulisses, e descansava o crepúsculo lá do outro lado, imóvel e à espera.
E o tempo, temendo que o céu desabasse por culpa de sua vontade de mover-se, pernanecia cautelosamente imóvel e à espera.
E a mente silenciosa de Ulisses, acreditando na ilusão de que o dia não terminaria, pensava nisso imóvel e à espera.
E Ulisses acreditava que o sol, o crepúsculo, o tempo, e sua mente, manipulavam a ilusão de que o dia nunca terminaria, e tranquilamente pernacia imóvel e à espera.
E nada se movia, e em vão todos esperavam e sem motivos que o dia terminasse.
Mas o dia, preso à ilusão de Ulisses, à imobilidade do sol e do crepúsculo, ao medo do tempo, e à dúvida da mente, permaneceu indefinidamente imóvel e à espera.

Um comentário:

VICIADOS EM CAFÉ disse...

Ulisse tem que encarar o mar, tem que sonhar com ítaca!