16 de out. de 2012

Fui eu

Causou espanto a morte de Tadeu. Porque Tadeu era moço certo e trabalhador.
Causou espanto nos policiais que conheciam Tadeu antes mesmo da delegacia se instalar no bairro.
Causou espanto no dono do jornal, que nunca havia noticiado um crime na cidade.
Causou espanto a vida breve que se ia sem aviso nem despedida. Sem ao menos um último gole no bar do Perito.
Foi na segunda, de manhã, antes do almoço, com sol entre nuvens, carros enfileirados no sinal.
Morreu tão cedo, que chegou ao céu sem saber que lá desembarcava.
E causou espanto até em São Pedro, que nem havia aberto o livro de entrada. Os portões, ainda fechados.
E tadeu não se deu conta, pois não sabia o que era a morte ainda, porque nunca havia morrido antes.
Mas Tadeu aprende rápido, e logo percebeu que não veria Marina naquele dia. Preocupou-se com a falta de notícia suas, e quis voltar só pra dizer "até logo".
E todos mediram esforços pra achar o assassino, encontrar a prova, condenar um homem, fazer justiça.
Mas nada foi encontrado nos dias seguintes, nem mancha de sangue onde Tadeu caiu morto.
Causou espanto a falta de tudo que explicasse a sua partida logo na segunda, antes do almoço, com sol entre nuvens e carros enfileirados no sinal.
Mas não se morre apenas de morte? Não é a morte o antônimo da vida? Assim como o reflexo no espelho, os lados estão sempre lá até que um se mostre ao outro.
Mas a morte de Tadeu não causa espanto em mim, porque fui eu quem o matou.

Nenhum comentário: