24 de out. de 2012

BULA HERMÉTICA

Alguém disse certa vez que esquerdo é ímpar e direito é par, assim como pode perceber o ar que se curvava para não atingir a vela, evitando assim apagar a nítida impressão de que a chuva tinha lá suas razões para lavar a alma daqueles que perderam a secura da monotonia da fluência das coisas na filosofia de Heráclito.

Talvez porque seja verdade o que se diz de esquerdo e direito, par e ímpar, a falta de oxigênio sufoque a vela, desinformando a luz que explica para os olhos o que ele vê. Talvez seja verdade também que o filósofo seja um louco monótono tentando explicar a cor que os olhos do daltônico evita, que o latido do cão é o grito da mudez do paralelepípedo irregular, que aquilo que chamamos céu na verdade não tem nome para o deus que fugiu sem deixar vestígios.

Alguém disse certa vez que hermética é a bula que não explica o que sente, mas que sente o inexplicável poder do peso e da massa das coisas – a gravidade da órbita dos olhos alheios -, embora tudo seja ilusão e que o mundo não é uma esfera e sim uma folha habitada pelas traças humanas. Talvez as palavras não mostrem o que as letras querem nos dizer, e que ímpar é o que se pede para depois e par o que se deixou de ter por falta de motivo.

E assim, a única verdade é que você e eu não estamos em lugares diferentes, estamos aqui e agora dentro deste texto, no espírito que se entrega pacificamente ao seu destino de estar ao mesmo tempo dos dois lados da vida.

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