Quando o escritor abaixou a cabeça para autografar seu livro, não percebeu o olhar fixo e assombrado do menino. Naquelas mãos antigas, a caneta lentamente ia desenhando a dedicatória, enquanto o menino acompanhava com a cabeça. Não imaginava o que significava para ele ter um livro. A edição novinha em folha, ainda quente nas mãos do escritor, agora seria sua. Tremia ao pensar que chegaria em casa com ele, que os garotos do bairro rico saberiam que ele agora tem um livro também.
O escritor levantou a cabeça, olhou fixo o menino e sorriu, não disse nenhuma palavra e entregou o livro em suas mãos. O menino nem queria muito, nem sorriso, nem conversa, só queria mesmo era ver o escritor.
Ouvira falar muito dos escritores pelos meninos do bairro rico. Mas hoje não era conversa, era de verdade, um escritor de carne e osso bem a sua frente, dava até pra sentir o cheiro dele.
Mas o que valia mesmo era que agora ele podia se sentir como se fosse um menino do bairro rico. Toda vez que olhasse o livro na cabeceira da cama, lembraria deles e saberia que era igual, ou quase.
Só faltava mesmo saber ler!
Um comentário:
Já tem o livro, já tem o estímulo, ler agora é o mais fácil
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