1 de ago. de 2012

Um conto, duas leituras

Ontem, uma segunda-feira chuvosa de outono, dia vinte e dois de maio de mil novecentos e noventa e nove – um dia que ficará para sempre em minha memória, por volta das dezenove horas e trinta e sete minutos, como mostrava o grande relógio estilo gótico tardio instalado na torre norte da principal praça da cidade, inaugurado com pompa e circunstância há mais de quarenta anos pelo antigo e finado – que Deus o tenha com toda sua graça, - prefeito de nossa cidade, restaurado há pouco mais de uma semana pela atual administração, e re-inaugurado pelo atual prefeito, com festa milionária pelo partido que já há algum tempo fazia campanha – das mais caras que já se viu na cidade, posso dizer com certeza - para sua reeleição, e que fica a alguns metros de onde eu estava, um vento lateral – que, aliás, sempre sopra àquela hora da noite - chamou a minha atenção, enquanto uma pequena gota gelada de chuva se precipitou de uma pequena folha agarrada ao tronco de um fícus, localizado na rua das magnólias, na altura do número quarenta e dois, bem de frente a um pequeno portão de ferro, enferrujado pela ação do tempo e pela falta de manutenção, que divisa um magnífico jardim de gérberas de todas as cores, cultivado com esmero e carinho por Dona Faurécia, proprietária quase centenária e excelente doceira que vende deliciosas cocadas de porta em porta pelas ruas do bairro -, atingiu minha nuca, entrando lentamente por dentro do meu agasalho, escorrendo pelas costas e me dando calafrios, quando ela me olhou com olhos de rara preciosidade e sorriso desinteressado, maneou levemente a cabeça como alguém que tenta chamar a atenção para alguma coisa que está acontecendo por cima dos ombros, piscou seus lindos olhos verdes tentando me dizer alguma coisa que naquele momento não pude perceber, pois fiquei paralisado de frio, e me beijou!

2 comentários:

VICIADOS EM CAFÉ disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
VICIADOS EM CAFÉ disse...

O importante foi justamente isso, ela e beijou.
O que veio antes foi para desarmar teu espírito e te abrir para surpresa!