10 de ago. de 2012

O Escrevinhador*

Não era um poema – versos tortos – no sentido técnico da palavra. Também não eram versos – poesia vazia – se um poeta os lê-se. Era sim um lamento – não um lamento de amor – mas quase uma ode à loucura e a dor.
O fato é que as letras estavam lá – não só letras – mas o sentido e o sentimento de cada palavra. Era como um perfume que roubava o ar e asfixiava quem o percebesse.
Ironia, pois sua vida sempre foi um romance no sentido técnico da palavra. E como escritor, era o melhor autor de suas próprias desventuras.

E foi num momento – no intervalo - que tirou a própria vida para vencer o medo da morte.

Não era – nem foi – um herói no sentido mítico da palavra – viveu suas aventuras como um coadjuvante à espera do papel principal. Morreu no final como fazia com seus melhores personagens. Não era um livro – no sentido de obra literária – mas tinha lá suas notas de rodapé, onde explicava que o conteúdo não vale nada sem uma premissa.
Afinal aquelas linhas não falavam de um conto – ou uma crônica diabólica – nem contavam a sua própria história: era apenas quase um poema!


* (ô). [De escrevinhar + - dor.] - S. m. Fam. > Escritor de muito pouco merecimento, ou nenhum; escrevinhadeiro, escrevedor, escriba, rabiscador, borrador. 

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