10 de ago. de 2012

Jung, Platão, o anjo e Eu

No fundo do restaurante de chão velho e judiado por quem ali passa todos os dias, há uma parede azul feita de chapiscos. Em um canto indesejável desse lugar, há uma mesa de madeira com uma toalha xadrez surrada, rasgada e suja de todo tipo de alimento. Uma única cadeira com uma das pernas remendadas, é a opção para sentar-se. Um forte cheiro de fritura sai da cozinha e deixa o ar predominantemente azedo e enjoado.
Para quem olha de fora, entrar ali é um ato de destemida coragem e despreocupação com as coisas materiais da vida. Para os que olham de dentro, nunca podem afirmar se chove ou se o dia está ensolarado. Mas como as coisas acontecem simplesmente por uma causa ou lei natural, que não pode ser modificada, alterada, ou ignorada, nada pode evitar que o destino seguisse seu inexorável caminho determinista e me colocasse na situação em que me encontro agora.
E por um instante - tão curto quanto um piscar de olhos - pensei em Jung, que me ensinou em seus livros sobre a sincronicidade das coisas; pensei em Platão e vi que se enganara em alguns aspectos de sua filosofia idealista, porque existem coisas que só a experiência pode provar a materialidade do mundo real.
E foi então, depois de dissipada a fumaça da fritura, que pude perceber que não estava sozinho naquela mesa.

E ali, naquele canto imundo e desconfortável daquele restaurante, um anjo de asas sujas e tortas, barba por fazer, com um ar de embriagado, sentado a minha frente, tomou da minha mão meu sanduiche de contra-filé e pediu:

                - Me passa o catchup!

2 comentários:

VICIADOS EM CAFÉ disse...

Em seu lugar eu sentaria com ele e pediria uma jarra de chope

Solange Gomes disse...

Elementar meu caro, nesse caso trata-se de Freud...