CONTOS INVENTADOS.
textos de amor e ódio sobre todas as coisas
15 de jan. de 2013
11 de jan. de 2013
Sala de espera
Na sala de espera do ginecologista, duas estranhas trocam palavras enquanto esperam sua vez. Vou chamá-las de Silene e Elisa para proteger suas identidades.
Silene - Estou esperando um filho! (sorriso estampado na cara)
Elisa - Parabéns. Pra quando é? (sorriso estampado na cara)
Silene - Ah! Não sei ainda, talvez pra daqui dois ou três anos. (fazendo cara de quem sabe o que está dizendo)
Elisa - ...! (cara de 'não entendi porra nenhuma e quero sair do perto dessa mulher')
Silene -Quanto antes planejar, melhor (cara de quem é phd no assunto)
Elisa - A tá! (ainda com cara de medo, tentando esboçar uma reação que não mostre isso)
...e continua. - Nunca pensei dessa maneira
Silene - Primeiro uma consulta ao médico, depois arranjar um namorado, torcer pra ele querer casar, e depois disso, fazer um bebê fica super fácil. (mantendo a mesma cara de antes)
Elisa - Hummm! (com cara de 'essa mulher não sabe que não precisa casar pra ter filhos?')
Silene - Falta muito pra minha vez? (pergunta pra recepcionista)
Recepcionista - O Dr. já vai atendê-la, senhora. (mas só ela sabe que ainda faltam mais treze pacientes para serem atendidos. Afinal, se ela não tem pressa pra ter filhos, porque teria pra ser atendida?)
10 de jan. de 2013
Missa das sete
A missa das sete estava cheia apesar da chuva. Ele olhou para todos do alto de seus um metro e noventa e nove de altura, tirou os óculos, apertou os olhos a fim de enxergar melhor – talvez - e suspirou profundamente colocando os óculos de volta no nariz adunco e severo. Parecia agora pronto para falar. Os sons abafados da audiência o deixava apreensivo e ansioso. Talvez devesse se retirar e não enfrentá-los ainda. Pensou que outras oportunidades não faltariam para que dissesse a todos o que todos estavam ali para ouvir. Sentiu-se ridículo naquelas roupas, mas eram roupas comuns de sua profissão – não entendia por que elas lhe pareciam tão inapropriadas naquele momento.
A umidade da manhã de domingo entrava dissonante através dos vitrais e enchia o ambiente com uma incerteza concreta. Essa incerteza também tomava conta dele que tentava esconder seu medo esfregando as mãos úmidas num pequeno lenço que tirou do punho direito da batina. Olhou fixamente para todos mais uma vez, tirou os óculos e os limpou, colocou-os novamente e apertou os olhos a fim de entender melhor – talvez – o que todos ali já sabiam: sua incapacidade de iniciar o sermão. Não só o medo, mas o ceticismo tardio que o dominava eram uma barreira quase intransponível. De certo mesmo nele apenas o desejo de não estar ali. Pensou que talvez fosse um aviso divino – ou a falta dele – que sua fé fosse colocada à prova exatamente naquele instante.
Se Deus quisesse usá-lo como seu instrumento de marketing não seria ele quem lutaria contra, mas se essa estratégia o confundia, ele mesmo se encarregaria de resolver o problema da maneira mais fácil: desistindo! Mas ele pensou que desistir de tudo não era a mesma coisa que desistir de um fim de semana no lago. Seus pensamentos quase audíveis para a assistência o interromperam como um trovão, trazendo-o de volta ao seu lugar comum. Mais uma vez olhou todos ao redor, suspirou alto, tirou e colocou novamente os óculos num gesto nervoso, pegou mais uma vez o lenço na batina, enxugou a testa, esboçou uma palavra que chamou a atenção dos fiéis. E todos esperaram alguns segundos para ouvir a palavra salvadora, ou o que fosse, mas do alto de seus quase dois metros de altura ele só pensava em como não dizê-la. Ele não se sentia digno de proferi-la.
Os sons foram aumentando à medida que o tempo passava.
Os murmúrios transformaram-se em frases quase completas, o choro da criança entediada invadiu o nave, todos se perguntaram sobre a demora. No vitral, a figura do anjo Aniel se movia tomando agora a direção do altar, e outros anjos e santos se moveram a fim de tomarem seus lugares junto aos fiéis para ouvi-lo. O coroinha entrou balançando o incenso e defumando a todos.
Tomado agora por uma vontade que não era dele, levantou os braços em direção aos ouvintes, começou a mover os lábios, pensava haver dito alguma coisa, percebeu os fonemas, pensou ouvir sua própria voz. Ele não entendia se vinha dele ou de alguma força estranha seus movimentos involuntários, mas sabia por algum motivo desconhecido que não era ele quem falava. Outros que passavam do lado de fora da igreja entraram para ouvir o sermão. Os infiéis e os céticos que riam-se de tudo na praça se sentiram tentados a entrar, e entraram também, e o ateu que dormia nos degraus acordou assustado com a possibilidade de acreditar no que ouvia. Os bancos se encheram da gente que entrava sem parar, no corredor todos se acotovelavam para ouvir uma voz que se dilatava além daquele homem incerto e descrente. Ele sabia que sem a palavra não haveria o verbo. Pensava em si e em sua missão, dominado pelo desespero mudo. O silêncio da audiência espalhava-se pelo mundo. Sem a palavra o mundo tornar-se-ia um lugar silencioso. Essa responsabilidade aumentava exponencialmente sua impotência. E na tempestade da incerteza que invadia o homem e o sacerdote, a palavra se calou.
Do alto de seus um metro e noventa e nove de altura, ele olhou para a multidão, abaixou os braços, retirou o lenço da batina e enxugou a testa pela última vez, tirou os óculos e apertou os olhos a fim de ver que o tempo havia se esgotado. O silêncio explodiu na voz dos fiéis, os anjos se foram sem olhar para trás. Ele tirou as vestes sacerdotais e seguiu pelo corredor estreito entre os bancos e a multidão. Vestia uma calça jeans e uma camisa fina de malha. Não disse uma palavra a mais, porque não se achava digno de dizer nada. Pegou a direção da estrada velha e fez caminho onde só havia dúvida. Agora sentia-se livre, revigorado, autêntico.
Na nave, o coroinha defumava as peças de prata e bebia o vinho enquanto os fiéis esperavam em vão pelo sacramento.
por: ALEXANDRE COSTA
8 de jan. de 2013
Prostitutas de BH têm aulas grátis de inglês para se preparar para a Copa
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1211528-prostitutas-de-bh-tem-aulas-gratis-de-ingles-para-se-preparar-para-a-copa.shtml
Só tenho uma coisa pra dizer: finalmente esse país tá levando alguma coisa a sério!
Só tenho uma coisa pra dizer: finalmente esse país tá levando alguma coisa a sério!
Texticida em 500ml - O poeta e o astronauta
"Atrás de mim, num movimento infinito, a galáxia se move tão sorrateiramente que não noto a sua aproximação. Colisão de estrelas em minha cabeça, fogos noturnos em artifícios que me dominam e dão sentido a tudo. Abro os olhos e vejo enfim, que minha loucura não era sonho: a galáxia é ela; a colisão, seu corpo pensando sobre o meu; os artifícios, o gozo abrupto e avassalador."
Se alguém vier falar de amor, nem tente. Se vier falar de sofrer, experimente a dor primeiro, e me diga depois se nela também não há uma pitada de amor. Preste atenção no poeta e no astronauta, ambos vivem no mesmo lugar. Há sempre um conto em alguma parte, que fala de tudo quanto é possível falar, matando tudo que se pode matar.
No romance que li ontem - ela foi em minha direção, e o que eu vi não foi real - ela deslocando o ar ao seu redor, seu corpo perfeito me pedindo e eu fui, e foi como se ela estivesse nua me pedindo pra seguí-la. Mas era só um romance, simples folhas de papel e tinta...e veio a dor. E não havia mais nada em que acreditar!
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